CASAMENTO NOS TEMPOS BÍBLICOS - Uma Mensagem baseada no contexto histórico e arqueológico das escrituras.
“Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou.
E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos.
E disse-me: Escreve: Bem aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E disse-me: Estas são as verdadeiras palavras de Deus.”
A Bíblia faz um paralelo, ou seja, uma comparação entre o casamento humano e a união de Cristo com sua igreja. Jesus Cristo é o Noivo e a Igreja que são todos os crentes representam a Noiva.
Observando um casamento nos tempos e costumes Bíblicos, ou melhor, da época da Bíblia, teremos uma ideia mais exata dessa comparação. Vejamos então o passo a passo do casamento na época de Jesus e dos apóstolos, assim aprendemos não só sobre a passagem de Apocalipse, mas também sobre a passagem das dez virgens e muitas outras que falam sobre casamento.
Os passos para chegar ao casamento eram 7:
A Escolha dos cônjuges, o consentimento mútuo, o pagamento do dote, o noivado, a festa de casamento, a consumação, e até que a morte os separe. Veremos então esses passos um por um e logo em seguida faremos um paralelo ao relacionamento de Cristo com a Igreja. Quero deixar claro que todas essas informações sobre casamento não partiram da minha cabeça, nem de coisas que eu ouvi, mas a fonte que extrai essas informações é fidedigna, é o livro Manual dos Tempos e costumes Bíblicos de William L. Colleman. Um livro fascinante que eu faço questão de recomendar. Ele trata do contexto histórico, cultural, social, politico e religioso dos povos da Bíblia com base em documentos históricos e descobertas arqueológicas. Uma grande ferramenta para pastores, professores e estudantes da Bíblia e teologia.
Agora vamos aos passos:
A Escolha dos Cônjuges
Era comum e natural naquela época que os pais escolhessem para os filhos a pessoa pelo qual eles iriam passar toda a sua vida. Isso era tão natural que os próprios filhos por mais que tivessem autonomia e liberdade muitas vezes pediam aos pais que fizessem a escolha ou que consentisse em sua escolha.
Porém não pense que era sempre assim, havia em Israel muitas festas e era permitido aos jovens, apenas nessas ocasiões, a paquera. Se algum jovem se interessasse por outra pessoa poderia então partir para o segundo passo.
O consentimento mútuo
O jovem que tivesse seu interesse despertado por outro precisaria agora do consentimento mútuo. Os seus pais teriam que se agradar do partido, a jovem ou o jovem pretendido teria que querer e os pais do lado interessado geralmente fariam contato com os pais da outra pessoa para combinar o dote caso todas as partes interessadas concordassem. Houve casos em que a jovem ou o jovem prometido não quis casar-se os pais não obrigaram e desfizeram o acordo de casamento, claro que não era maioria dos casos, pois geralmente as partes interessadas não desfaziam o combinado.
O pagamento do dote
Este terceiro passo pode parecer vulgar se olharmos com a ótica da nossa cultura, pois pensaremos: - como pode alguém ter preço? Como pode alguém pagar pra casar com o outro? Olhando dessa forma realmente é no mínimo estranho, mas o sentido do dote não era esse. O objetivo do dote era mostrar o quanto o noivo valorizava a noiva, o quanto ele estava disposto a lutar por ela e o quanto ele a valorizava. Se ele tivesse disposto a pagar o dote então ele estaria disposto a lutar e ficar com ela até o fim.
O dote não era pago apenas em dinheiro, muitas vezes o noivo poderia pagar em jóias, em um presente mais simples no caso de pessoas que não tinham muitas posses, um terreno que interessasse ao pai da noiva, ou até mesmo em serviços. Este último foi o caso de Jacó que trabalhou arduamente para seu sogro. Jacó amou Raquel e resolveu que valia a pena trabalhar por sete(7) anos de graça para seu sogro Labão, que o enganou e entregou a irmã dela após os duros anos de trabalho. Jacó não desistiu e trabalhou por mais sete anos para o sogro para enfim casar com Raquel(Gn 29.18). Isto foi uma verdadeira demonstração de amor e valorização da noiva.
Também teve o caso de Davi que venceu o gigante e tinha por direito a mão de Mical filha de Saul, mas Davi não achou correto casar-se com ela, pois era pobre e não tinha dinheiro para dar um dote a altura de uma princesa. Seu sogro Saul a fim de ver sua morte pediu a ele um inusitado dote, cem(100) prepúcios de filisteus ( 1Sm 18.25). Davi para mostrar o quanto valorizava a moça trouxe duzentos, ou seja, o dobro do dote pedido. Acredito que o dote mais caro que encontramos na Bíblia foi o Rei Salomão que ao faraó para casar com uma de suas filhas. Ele deu nada mais que um cidade, a cidade de Geser ( 1Rs 9.16).
Após o pagamento do dote seguia então para o quarto passo, o noivado.
O Noivado
O noivado judaico não era uma festa, mas a preparação para ela. O noivado era geralmente um período de um ano que culminaria em seu término na festa de casamento. Nesse período os noivos já eram chamados de marido e esposa e podiam passar mais tempo juntos, já que antes disso não se tinha contato a não ser em festas.
Nesse período todos da comunidade já sabiam do casamento e os noivos tinham um ano para organizar todos os preparativos da festa. Ainda podia ter desistência nesse momento, mas se houvesse haveria também uma reparação. Se o noivo desistisse teria que arcar com os custos que o pai da noiva fez, além do dano moral da desistência. Se a noiva desfizesse o casório o pai dela teria que devolver o valor do dote. É claro que o índice de desistência era mínimo.
Por fim o noivado era um grande compromisso, onde os noivos já estavam dados em casamento, embora não tivesse ainda a consumação do ato. Eles já eram vistos diante da sociedade como casados, por isso que José ao saber da gravidez de Maria planejou fugir sozinho, para que ela não fosse apedrejada, pois essa seria a pena caso ela tivesse o traído.
Após o período de noivado, os noivos já estavam preparados não só para o casamento como também para a festa que era um evento muito importante para a comunidade Israelita dos tempos de Jesus.
A Festa de Casamento
Havia um cortejo antes da festa, onde os amigos do noivo e ele seguiam festejando pela cidade até encontrar o cortejo da noiva. Aqui encaixamos então a parábola das dez virgens. Muitos pensam que a parábola das dez virgens significa que eram dez noivas, mas a verdade é que não. As dez virgens eram amigas da noiva, que ainda não haviam contraído matrimônio e aguardavam o cortejo do noivo com suas lâmpadas acesas a fim de iluminar o caminho do noivo ao encontro da noiva. Assim o cortejo do noivo encontrava com o cortejo da noiva e esta era carregada numa espécie de andor até o local da festa, que geralmente era na casa do noivo.
Ao chegar no local com muita alegria os cortejos encontravam os convidados e ali começava as bodas, ou melhor, a festa de casamento. Que podia durar vários dias, por isso tinha que ter muita comida e bebida para servir os convidados. Agora então compreendemos porque faltou vinho nas bodas de caná onde Jesus fez seu primeiro milagre. Provavelmente aquela festa já havia se estendido por vários dias.
Por fim as festas de casamento dos tempos de Jesus eram regadas com muito vinho, muita comida e muita alegria e bom humor, além das danças típicas dos Israelitas.
A Consumação
Durante a festa de casamento não havia um sacerdote para oficializar o matrimônio. O que oficializava era a consumação do ato. O ato sexual era a prova de que os dois se tornaram uma só carne. Havia também a prova de grande importância da pureza da noiva. A virgindade não era algo para ser debatido, a noiva tinha obrigação de chegar virgem ao casamento. O ato sexual era consumado na própria festa de casamento. Os noivos iam para uma câmara ou quarto separado e preparado para as núpcias, enquanto os convidados se fartavam e se divertiam na festa. Após o ato consumado a noiva apresentava o lençol manchado como prova da sua castidade e pureza até aquele dia.
Isso pode soar feio ou estranho para nós, mas era absolutamente normal para eles. Enquanto o dote era a prova que o noivo dava a noiva do quanto ele a valorizava, a virgindade era a prova da noiva ao noivo de que ela se guardava imaculada para ele.
Até que a Morte os Separe
Após o dote, o noivado, a festa e a consumação do casamento esperava-se que os casais fossem felizes e que não chegasse ao extremo do divórcio que deveria ser visto sempre como o último caso, como Moisés permitiu por causa da dureza dos corações.
Em geral não havia separação e os casamentos duravam até a morte de um dos cônjuges.
Traçando um Paralelo
Agora que já compreendemos os passos de um casamento judaico nos tempos da Bíblia podemos então fazer um paralelo com a união de Jesus Cristo com a sua igreja. Jesus o noivo esperado e a noiva adornada e pronta para receber o noivo.
A Escolha dos cônjuges
Jesus de antemão nos escolheu e nos separou para sermos parte desse corpo de crentes chamado igreja ( Rm 8.29-30). A Bíblia diz que nós o amamos porque ele nos amou primeiro ( 1Jo 4.19). Ele tomou a iniciativa e aprouve a ele escolher e amar a sua igreja.
O consentimento mútuo
Apesar de Jesus ter tomado a iniciativa e nos escolhido nós também precisamos desejar e querer esta união. Temos que crer com o coração e confessar com a boca ( Rm 10.9,10). O consentimento é mútuo, pois o pai decidiu, o filho quis vir como propiciação, o Espírito Santo nos convenceu e a nossa resposta foi sim pra Jesus.
O pagamento do dote
Quem paga o dote na tradição judaica é o noivo. Jesus não fez diferente, embora nós ao contrário de uma noiva não merecíamos que alguém pagasse tão alto preço por nós, mas Cristo para a glória de Deus pai resolveu pagar. Note que o dote é sempre pago ao pai da noiva e realmente Deus não é nosso pai?
Cristo pagou o mais alto preço que algum noivo poderia ter pago, o preço do seu próprio sangue, deu a sua vida pela igreja ( Ef 5.25).
O noivado
Todos os que estão em Cristo agora vivem o momento do noivado. Embora ainda não foi consumado o casamento quando seremos um só com ele na glória, mas a igreja é o corpo de Cristo que é o cabeça. A igreja tem um compromisso firmado com o noivo e o aguarda para a tão esperada festa que haverá quando ele vier nos buscar ( Ap. 2.10). Aguardamos ansiosos aquele momento quando ele nos dirá: "entra no gozo do teu Senhor"( Mt 25.21)!
A festa de casamento
As bodas de casamento duravam em torno de sete dias, a nossa festa com o noivo Jesus Cristo durará 7 anos. Perceba que a festa começa com dez virgens aguardando o noivo com suas lâmpadas. A igreja que está representada na parábola pela noiva, já está certa para a festa. Ela não é uma incógnita, ela já está separada para o noivo e predestinada a encontrar-se e casar-se com ele. A noiva não precisa esperar com uma lâmpada, pois ela já é iluminada e está apenas aguardando com alegria e ansiedade o noivo. A igreja é o conjunto dos crentes que serão salvos naquele dia. Mas então o que significa as dez virgens? Elas simbolizam as pessoas no mundo que sabem da volta de Cristo, sabem que ele é Salvador, mas que individualmente nem todas as pessoas estarão no gozo, individualmente só entrará quem tiver azeite na sua lâmpada (Mt 25.1-13).
Sabemos que a igreja já está reservada para a salvação, mas não sabemos entre nós quem é igreja e quem não é. Cabe-nos então pregar e alertar para que cada um de nós possa ser achado com a sua lâmpada acesa e cheia de azeite naquele grande dia que Cristo, o noivo, retornará.
A consumação
No casamento judaico como vimos era necessário a noiva dar uma prova de pureza, da castidade. Caso ela não fizesse isso o noivo poderia pedir a anulação do casamento.
No nosso caso não temos como dar a Cristo uma prova de pureza, pois todos pecamos e destituídos estamos da glória de Deus (Rm 3.23). É impossível para nós nos justificarmos diante de Deus haja vista que somos merecedores do castigo. A questão aí é que a prova de amor do noivo foi justamente essa, receber o castigo merecido a nós. Ele foi castigado e humilhado no nosso lugar, ele se ofereceu por sacrifício vivo e perfeito para nos justificar ( 2Co 5.21).
A noiva pega em ato de adultério deveria ser morta, e o quanto não adulterados traindo o nosso Deus? Entretanto o noivo recebeu as pedradas por ela e hoje podemos cantar e louvar ao noivo pelos seus grandes feitos. Glória a Deus e a seu filho Jesus Cristo e ao Santo Espírito pelos séculos dos Séculos, amém!
Até que a morte os separe
No caso dos noivos humanos a morte tem esse poder de separá-los, mas no caso de Cristo ele ressuscitou para provar que nem a morte, nem a vida, nem poderes, nem alturas, nem profundidade poderá nos separar do seu amor ( Rm 8.32-37)! O seu amor é forte, resiste a tudo inclusive a morte. A Bíblia diz que naquele grande dia a morte será tragada pela vida e esse corpo mortal será substituído por um corpo glorificado ( 1Co 15.54).
Para concluir quero pedir ao amado leitor que examine a si mesmo e que procure viver o máximo que poder a vontade do Senhor, sabendo que ele é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar. A igreja não deve se misturar com o mundo, num casamento a pessoa inconfundível é a noiva, todos sabem quem ela é, pois ela é diferente, está vestida diferente. Suas vestes são brancas, representando a pureza do seu coração e ela encontra-se adornada mostrando o seu valor e que está preparada para o noivo.
O que as pessoas tem visto em você? Elas têm conseguido perceber que você está preparado para receber o noivo ou elas te vêem como qualquer convidado da festa? Pense nisso.
Mensagem ministrada no domingo 22/12/2019
Na Igreja Palavra da Verdade
Pr. Ross
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