Há 20 anos atrás quando eu comecei no evangelho havia um certo entendimento entre as igrejas de que um pastor só poderia ser licenciado para o cargo se ele tivesse um curso de teologia. Era corriqueiro ouvir a expressão que todos que faziam teologia estavam estudando para ser pastores, mas de 20 anos para cá isso foi mudando radicalmente muitas igrejas que hoje são abertas e não há um mínimo de exigência nem ao menos de um curso básico para ser pastor. O que vejo hoje é até uma campanha contrária à teologia; uns dizem que teologia esfria o crente, outros dizem que a pessoa se desvia depois que faz teologia e os mais moderados dizem que teologia não serve para o chamado pastoral. A realidade é que o chamado pastoral e o curso teológico são duas coisas diferentes. O chamado pastoral provém de Deus e independe de curso, é um dom que Deus concede a quem ele quer, mas não se pode negar que o curso teológico é uma grande ferramenta para o chamado pastoral. Na sala de aula de um bom Curso teológico você tem ministros e pastores mais experientes passando o seu conhecimento e as suas boas práticas para os candidatos ao ministério. Você tem teólogos capazes que vão dar diretrizes para uma boa interpretação Bíblica e aprenderá a responder perguntas difíceis sobre história, canonicidade dos livros da Bíblia e outras questões. Num bom curso de teologia aprendemos sobre a função da igreja, o aconselhamento cristão, administração eclesiástica e tantas outros assuntos.
O pastor sem Teologia pode até estar bem intencionado, mas lhe faltam recursos para um bom andamento do seu ministério. Eu mesmo tenho a experiência de estar no ministério sem Teologia e com Teologia e posso assegurar que ela faz uma grande diferença. Imagine que você foi contratado para carregar um monte de areia de um lado para o outro da rua, numa distância considerável, só que você só tem a sua disposição uma pá. Já pensou o trabalho que seria levar de pá em pá de areia? Entretanto na segunda pá que você leva alguém te oferece um carro de mão. Aquilo que seria feito em incontáveis idas e vindas agora dá pra fazer em duas viagens. Essa é a diferença de um ministério com e sem Teologia, pois ela é a ferramenta que facilita a sua empreitada. Podemos até nos esforçar e conseguir sem a Teologia, mas as dificuldades são ampliadas consideravelmente.
Alguém pode alegar em favor de sua posição contrária a Teologia que os doze discípulos não frequentaram nenhuma escola teológica, mas essa afirmação não passa de uma desculpa e parte de uma ignorância terrível. Eles passaram três anos e meio aos pés do maior de todos os mestres, o próprio Deus encarnado. Eles ouviram os discursos, ensinamentos, debates e pregações de Jesus, além de estar com ele 24hs por dia vivenciando na prática todos os ensinos. Tenho por certo que se fôssemos contabilizar as horas/aulas e as matérias que eles aprenderam não caberiam num curso de graduação teológica, eles com certeza alcançariam facilmente o nível de PhD em teologia. Olhando mais a frente na história podemos ver grandes homens de Deus que foram usados para realizar grandes feitos como John Hus, Savanarola, John Wesley, Calvino, Lutero, Wiclif, Charles Spurgeon e tantos outros que poderíamos enumerar, todos teólogos. Como podemos ver a história nos mostra a importância do conhecimento teológico.
A falta da Teologia gera desconhecimento de muitas matérias e essa escassez de conteúdo é um dos fatores que têm produzido nos púlpitos brasileiros esse evangelho desequilibrado, que só atenta para o que convém ao momento e as pessoas que estão presentes. Púlpitos carentes de teologia, são fracos de boa doutrina, e é essa falta de doutrina bíblica que tem permitido toda sorte de falácias e enganos nas igrejas.
Entretanto devo afirmar aqui também que tenho visto uma luz no fim do túnel, afinal nem tudo está perdido. Vejo um movimento, mas que ainda não tomou as proporções devidas, de jovens retornando com vontade ao ensino claro e fiel das escrituras e consequentemente ingressando nos cursos teológicos. Vejo pessoas na internet debatendo e ensinando Teologia, incentivando a leitura das mais diversas sistemáticas e creio que isso é uma semente que está sendo plantada para um futuro de um país que tem potencial para ser um celeiro de bons pregadores e não de hereges como temos visto. Isto me alegra e creio que é preciso que nós, que temos responsabilidade com o reino, propaguemos as benesses da Teologia para um ministério, seja ele pastoral ou missionário.
A verdade é que muitos líderes e membros tem se deixado enganar pelo evangelho manco pelo simples motivo de que realmente lhes falta o aprendizado profundo de suas bases doutrinárias. Quando vem os falsificadores da fé e lhes apresentam práticas estranhas ao cristianismo, os que renegaram a teologia são facilmente levados.
É importante também pontuar que nem todo curso que se denomina bíblico é teológico. Hoje existem cursos em que as pessoas passam dois anos sentados numa cadeira, aprendendo confissão positiva e teologia da prosperidade, aprendendo como receber o Espírito Santo e falar em línguas. Aprendem como expulsar o demônio dos outros e como operar curas e milagres. A promessa desses cursos é formar verdadeiros super crentes que tem até mesmo poder de decretar e de chamar a existência do nada, como se fosse possível alguém ensinar o outro a fazer o trabalho de Deus. São cursos auto-denominados de "Fé Revelada", a forma como eles procedem faz o público deles pensarem que o único lugar onde tem a revelação de Deus é ali, quando sabemos que a única revelação de Deus é a Bíblia Sagrada.
Como saber então qual curso não devo ingressar? Em primeiro lugar se esse curso não leva o nome de Teologia já é motivo para desconfiar, mas não o suficiente, pois existem cursos confessionais, ministrados em igrejas por pastores sérios, que levam o nome de curso bíblico. Segundo: tenha referências, pessoas que fizeram, que possam falar do curso pra você. Terceiro: veja a grade curricular do curso. Se a grade tiver matérias como cura divina, prosperidade, e não tiver doutrina de Cristo, Soteriologia, hamartiologia, História da igreja, Teologia Bíblica entre outras, que fazem parte de um currículo base de um seminário teológico, já é mais uma evidência.
Em Quarto lugar: se o curso tiver uma regra que impeça dos alunos fazer perguntas aos professores durante a aula e assim proíbe o debate, este é um grande indício de que este curso seja uma forma de alienação. Eles vão usar o subterfúgio de que é para organizar a aula e que o aluno poderá tirar dúvidas direto com o professor no fim de cada aula, mas a verdade é que o ensino deles não ficaria de pé se encontrassem em sua sala um aluno capaz de interpretar a palavra a luz de seu contexto, e esse aluno tivesse liberdade para expor o que sabe.
Em quinto e último lugar: desconfie de uma organização, por maior que seja ,e por mais que falem bem dela se o ensino for baseado em apenas um escritor. Provavelmente o que estão ensinando ali seja a doutrina do fulano e não a palavra de Deus. Num bom curso de teologia aprendemos sobre diversos autores e diversos livros. Aprendemos sobre as correntes teológicas nos diversos assuntos e isto nos enriquece intelectualmente e nos faz ter compreensão ampla para formar nossa própria maneira de pensar e pregar. Vale a pena ter um curso teológico de boa qualidade.
Pr. Ross
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