A Veracidade das Escrituras - Wayne Grudem
1.Deus não pode mentir nem falar com falsidade.
A essência da autoridade das Escrituras está na sua capacidade de nos compelir a crer nelas e a elas obedecer, fazendo que tal fé e obediência sejam equivalentes a fé e obediência ao próprio Deus. Por esse motivo, é necessário considerar a veracidade das Escrituras, pois crer em todas as palavras da Bíblia implica confiança na completa veracidade das Escrituras em que cremos. Embora esse assunto vá ser discutido mais a fundo quando considerarmos a inerrância das Escrituras (veja o capítulo 5), vamos tratá-la rapidamente neste ponto.
Já que os autores bíblicos repetidamente afirmam que as palavras da Bíblia, apesar de humanas, são do próprio Deus, é bom olhar para textos bíblicos que falam a respeito do caráter das palavras de Deus e aplicá-los ao caráter das palavras das Escrituras. Há algumas passagens bíblicas que falam especificamente sobre a veracidade do discurso divino. Tito 1.2 fala de “o Deus que não pode mentir” ou (traduzido de forma mais literal) “o Deus não mentiroso”. Porque Deus é um Deus incapaz de dizer uma “mentira”, podemos sempre confiar em suas palavras. Uma vez que as Escrituras como um todo são expressas verbalmente por Deus, toda a Bíblia deve ser “não mentirosa ” assim como o próprio Deus: não pode haver inverdades nas Escrituras.¹³
Hebreus 6.18 menciona duas coisas imutáveis (o juramento de Deus e sua promessa) “nas quais é impossível que Deus minta". Nesse ponto, o autor diz não apenas que Deus não mente, mas que não é possível que ele minta. Embora aqui se faça referência imediata apenas a juramentos e promessas, se é impossível para Deus mentir nessas declarações, então com certeza é sempre impossível para ele mentir (pois Jesus repreende com severidade aqueles que dizem a verdade apenas sob juramento: Mt 5.33-37; 23.16-22). De forma parecida, Davi diz a Deus: “... tu mesmo és Deus, e as tuas palavras são verdade ”(2Sm 7.28).
2. Portanto, todas as palavras nas Escrituras são inteiramente verdadeiras e não contém erro em lugar algum. Já que as palavras da Bíblia são palavras de Deus, e já que Deus não pode mentir nem falar falsamente, é correto concluir que não há inverdades ou erros em qualquer parte das palavras das Escrituras. “As palavras do Senhor são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes ” (SI 12.6). Aqui o salmista usa imagem vívida para falar da pureza não diluída das palavras de Deus: não há imperfeição nelas. Também em Provérbios 30.5 lemos: “... toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam”. Não são apenas algumas palavras das Escrituras que são verdade, mas cada palavra. De fato, a Palavra de Deus está firmada no céu por toda a eternidade: “Para sempre, ó Senhor , está firmada a tua palavra no céu” (SI 119.89). Jesus pode falar da natureza eterna de suas próprias palavras: “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mt 24.35). A manifestação verbal de Deus é colocada em contraste nítido com toda manifestação verbal humana, pois “Deus não é homem para que
minta; nem filho de homem para que se arrependa ” (Nm 23.19). Esses versículos afirmam explicitamente o que estava implícito na exigência de que creiamos em todas as palavras das Escrituras, ou seja, não há inverdades ou falsidades afirmadas em nenhuma declaração da Bíblia.
3. As palavras de Deus são o padrão definitivo da verdade. Em João 17 Jesus ora ao Pai: “... santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Esse versículo é interessante porque Jesus não usa os adjetivos alêthinos ou alêthês (“verdadeiro”), que poderíamos esperar, para dizer “tua palavra é verdadeira”. Ele usa um substantivo, alêtheia (“verdade”), para dizer que a Palavra de Deus não é simplesmente “verdadeira”, mas é a própria verdade. A diferença é significativa, pois essa afirmação nos incentiva a pensar na Bíblia não simplesmente como “verdadeira” no sentido de que ela está de conformidade com algum padrão mais elevado da verdade, mas como sendo ela mesma o padrão definitivo da verdade. A Bíblia é a Palavra de Deus e a Palavra de Deus é a definição final do que é e do que não é verdade: a Palavra de Deus é a própria verdade. Por conseguinte, devemos pensar na Bíblia como o padrão definitivo da verdade, o ponto de referência segundo o qual deve-se medir qualquer outra alegação de veracidade. As declarações que se conformam com as Escrituras são “verdadeiras”, enquanto as que não se conformam não são verdadeiras.
Que é, então, a verdade? Verdade é o que Deus diz; e na Bíblia temos o que Deus diz (de maneira exata mas não exaustiva).
Extraído da Teologia Sistemática de Wayne Grudem. pp. 52-54.
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