Equivocados ou mal intencionados? Existem pessoas que pregam errado com boa intenção? Ou todo falso mestre e falso profeta é mau caráter? Nesse texto falaremos sobre isso e também sobre três motivos que fazem os pregadores fecharem os olhos para a verdade. Nesse momento meditaremos no que Jó disse:
"Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos." (Jó, 42.5)
Olhando para Jó vemos um homem íntegro e reto que foi elogiado pelo próprio Deus e que mesmo assim estava equivocado sobre muitas coisas concernentes a Deus. Não estou comparando Jó com os falsos mestres e profetas, nem de longe se assemelha, mas essa passagem nos dá uma idéia de que pessoas sinceras podem estar pregando algo totalmente diferente do Evangelho. Isto acontece porque lhe foi ensinado este Evangelho e ela não buscou a Bíblia suficiente para deixar de crer e pregar o erro. No caso de Jó ele desabafa no versículo 3 do mesmo capítulo que falava de coisas que ele não entendia. Será que o mesmo pode estar acontecendo com você? Ou com pessoas que estão do seu lado? Será que nós temos sido usados nessa transmissão de falso ensino? Uma coisa é certa esse Evangelho Manco, esse ensino deturpado tem que ser combatido.
Uma das principais coisas que devemos ter em mente é que nem todos os ministros que pregam esse falso evangelho são mal intencionados. Existem pessoas sérias que ingressaram ou mesmo nasceram nessas igrejas, e passaram uma vida inteira aprendendo aquela forma equivocada de interpretação da palavra de Deus. Não podemos esperar que estas pessoas preguem diferente, mesmo elas tendo um coração verdadeiro na obra.
Os mal intencionados são aqueles que já compreenderam a verdade e continuam pregando a mentira, ou mesmo aqueles que um dia estiveram em igrejas sérias que pregam o evangelho e agora apostataram da fé e estão pregando o evangelho manco. Para esses a palavra diz que já está reservado o fogo eterno.
Mas voltando aos equivocados, ou seja, aqueles que apesar de boa intenção pregam errôneas interpretações. Assim eles o fazem pela simples razão de que as falsas doutrinas da confissão positiva, quebras de maldição, Teologia da prosperidade e tantas outras; são a eles passadas de geração a geração. Da mesma forma que o Evangelho chegou a nós através de sucessivas transferências de conhecimento de cristão para cristão, assim também as más explanações e os falsos ensinos são transferidos ano após ano.
Ao observar isso não podemos deixar de lado o tópico acima, sobre o falso evangelho. Reflita comigo: se o falso é atraente para os que já ouviram o verdadeiro, imagine para as pessoas que só conheceram o falso? Por esta razão não se deve tratar essas pessoas desdenhando, mas com simplicidade, tolerância e não perdendo uma boa oportunidade de lhes mostrar a verdade.
O meu amigo pr. Markson Cézar, escritor e professor de teologia do IDE ( Instituto de Discipulado evangelismo), disse certa vez que "hoje precisamos reevangelizar a igreja". Concordo plenamente com ele. Infelizmente este é um quadro infeliz, pois ao mesmo tempo que vemos o crescimento das igrejas evangélicas no país, vemos também o aumento de divórcios, violência, alcoolismo e tantas outras mazelas que deveriam ser inversamente opostas ao crescimento da igreja. Entretanto o que vemos é o aumento e não a diminuição desses índices. Se esse crescimento fosse do verdadeiro Evangelho não seria diferente?
Enfim é preciso quebrar esse círculo maléfico onde de geração em geração vem sendo pregado um evangelho muito espiritualizado, mas pouco vivido; muito empolgante, mas pouco prático. É preciso acordar essas pessoas e fazê-las retornar para nossas origens e passar a compreender que o evangelho não é um pacote promocional que Cristo comprou para nós com várias surpresas e presentes, mas ele nos chamou para dar frutos nessa sociedade invertida que estamos inseridos ( Jo 15.16).
Devemos também diferenciar sinceridade de verdade. Sinceridade é uma virtude. Significa lisura de caráter, franqueza. Já a verdade é o fato real, é a realidade. Uma pessoa pode estar sinceramente errada, ela pode acreditar que um fato inverídico é verdadeiro e propagá-lo com toda convicção. A maior parte das pessoas que conheço que pregam a chamada confissão positiva são pessoas extremamente sinceras. Elas seguem fielmente o que pregam, tem uma vida de aparente retidão e são muito empenhadas em tudo que fazem no seu ministério. Eu fui um caso desses. Preguei a teologia da confissão positiva por anos da minha vida. Eu fazia estudos, lia muitos livros de autores neopentecostais, cheguei quase a ler toda a obra de Kenneth E. Hagin. Falava dessas coisas como alguém que possuía a verdade e precisava propagá-la a todo o custo. Até que eu me deparei com o evangelho e percebi que eu estava enganado. Eu era sincero, mas jamais poderia ter pregado a verdade, pois eu não a tinha por inteiro. Relutei no início, mas a minha vontade de agradar a Deus e de serví-lo foi maior que as minhas antigas convicções. Infelizmente nem todos tem empenho em encontrar a verdade, estão muito afogados na sua doutrina e quebrar qualquer desses pilares resultaria em catástrofe para eles.
Consequentemente alguns começam com sinceridade e sem mal intenções, mas depois fecham os olhos todas as vezes que a verdade lhes é apresentada. Agem assim por vários motivos, mas podemos enumerar três aqui:
O primeiro deles é que se mudar o conteúdo da sua mensagem todo o sistema deles ruirá. Eles já estão em situação muito confortável em seus templos, muitos vivem bem às custas da pregação, estão em cargos elevados e desfrutam de prestígio diante dos que seguem a mesma doutrina. Abandonar esse Evangelho Manco para eles seria o mesmo que deixar de trabalhar numa grande multinacional como diretor e passar a trabalhar como caixa de supermercado, nem todos estão dispostos a pagar esse preço.
Outro motivo é o emocionalismo. Os cultos dessas denominações geralmente são cultos extremamente emocionalistas. Não fazem ninguém pensar, entretanto conseguem fazer as pessoas chorar e rir com uma grande facilidade. A sensação que se tem é que há uma presença palpável do Espírito Santo ali. A consequência disso é o apelo a um culto cada vez mais irracional. As pessoas ficam compelidas a continuar nessas igrejas e a pensar que fora dali não há um culto tão espiritual. Além disso internamente pensam: “ Se a presença de Deus está aqui é porque Deus está aprovando tudo isso”. O apelo é grande para que não deixem aquele lugar e prosseguem espalhando as ‘benesses’ de participar de tudo aquilo.
O terceiro motivo é o ego. Nesse sentido podemos falar tanto dos membros quanto dos líderes. Os membros infelizmente se deixam levar por pregações que os exaltam, que os deixam em níveis extraordinários. Já ouvi muitos pregadores elogiando seus ouvintes, dizendo que eles são preciosos, que são o motivo e a razão de tudo que Deus criou, que tem grande valor e muitas outras coisas. Palavras assim deixam as pessoas cheias de regozijo e inflam o ego delas. Muitas dessas pessoas não estão procurando adorar a Deus no culto, mas estão em busca de bem estar e satisfação. Quanto aos líderes podemos dizer que é difícil para eles sair do palco onde eles são aplaudidos. Seus fiéis aprenderam a tratar eles como semideuses e posso dizer por experiência própria que é uma situação complicada querer abandonar isso. Sentir-se amado, sentir que muitas pessoas queriam estar no seu lugar, mas você conseguiu alcançar. Olhar pro lado e ver que tem pessoas que fazem de você um modelo a seguir, isso tudo vai gerando um apreço excessivo por si mesmo. Isso acarreta numa obstrução voluntária da visão. Por não querer sair desse pedestal ilusório eles vão continuar a propagação.
Desta forma a cadeia de reprodução das heresias continua firme, pois ela é alicerçada no ego, nos privilégios e na emoção. Assim de geração em geração eles conseguem transferir sua suposta revelação e incuti-la na mente de mais e mais adeptos.
Pr. Ross
Paulista, 02/01/2019
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